As curvas dos rios Tapajós, Amazonas, Arapiuns e Jauari conduzem muito mais que suas espécies ao longo do dia, carregam também ondas sonoras que ecoam a contemporaneidade da música feita nas comunidades que convivem ao longo das margens. Essa é a produção explorada no documentário “Várzea Wave: Rios”, com direção de Diego Orix Farias e lançado na última sexta-feira, 22.
O curta-metragem, conduzido pela narração de Felipe Cordeiro, traz relatos de indígenas e quilombolas sobre a importância da música em suas experiências cotidianas. O filme na íntegra está disponível no canal Várzea Wave, no YouTube.
Artistas paraenses que misturam ritmos urbanos, como o eletrônico e synthwave, com os mais diversos ritmos tradicionais da região, que vão além do carimbó, são o fio condutor da narrativa do documentário. No filme, Felipe Cordeiro, que ganhou o Brasil com uma mistura que carrega um sentido parecido, navega pelos rios por comunidades de várzea onde agricultores, quilombolas e indígenas dão os tons da contemporaneidade.
“Eu acho que muitas vezes se olha para essas músicas tradicionais como carimbó, músicas dos povos indígenas e quilombolas, de uma maneira muito extemporânea, como se fosse algo ligado a um passado”, avalia Cordeiro. “Acho importante ter em mente que existe uma cultura contemporânea dos povos indígenas, assim como das populações pretas quilombolas. São povos que por outras vias e outra trajetória histórica, estão no mesmo tempo que a gente, fazendo música como a gente, como qualquer outra pessoa que está nas cidades”, completa.
Em “Várzea Wave: Rios”, o destaque também vai para o mergulho na música do Pará que vai muito além da Região Metropolitana de Belém, aproximando essas produções. “Queremos trazer a cultura do povo indígena e quilombola para mais perto da sociedade urbana. Para fortalecer a música paraense, é preciso mostrar às novas gerações as canções regionais e incluir os povos tradicionais nesse processo”, conta Diego, diretor do filme.
Através da música, os personagens do curta-metragem falam não apenas sobre a rotina de trabalho, como fazer a farinhada ou produzir castanhas, mas também ressaltam a força da mulher indígena, falam sobre a resistência dos quilombolas ao perpetuar tradições africanas, além de expressarem seus sentimentos de amor à natureza e da urgência de preservá-la.
Para o diretor do filme Diego, a música paraense já foi bem difundida a partir do sucesso de alguns artistas como Gaby Amarantos e Dona Onete, mas ainda há uma grande lista de artistas que ainda não tiveram o mesmo alcance. Nesse sentido, o documentário explora o que há fora dos holofotes da mídia e dos trending topics das redes sociais: uma cultura rica e, acima de tudo, contemporânea.
Ainda sobre os objetivos da obra, Felipe Cordeiro destaca um outro ponto importante: desmistificar a ideia de que as músicas tradicionais estão ligadas ao passado. “Quando você faz arranjos urbanos, não é que você esteja ‘atualizando’, você está fazendo elos de uma contemporaneidade com outra”, defende.
No filme, o narrador explora três histórias de vida, uma delas das Suraras do Tapajós, grupo de carimbó formado apenas por mulheres indígenas da região do Baixo Tapajós. O grupo surgiu primeiro como um coletivo de luta por direitos de mulheres indígenas, que acabou caminhando para a formação de uma banda que valoriza as narrativas dessas mulheres.
OLIBERAL.COM
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